segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Nando Gross e seu comentário de hoje.

Depois que deixei a direção de futebol do Internacional, pouco tenho  me dedicado a ler, ver e ouvir a imprensa desportiva. Tenho lá minhas razões.
Apesar disso, como é imensa a audiência da programação desportiva, me deparo com amigos que me ligam comentando o noticiário.
Tenho enorme respeito pela profissão de jornalista e, em especial, por alguns que se revelam talentosos.
Hoje fui chamado por um amigo que fez inúmeras referências ao comentário do Nanado Gross em seu espaço na Rádio Gaúcha.
Relatou  que ele havia exigido uma providência dos órgãos de representação classista sobre o teor de uma entrevista longa que dei ao Jornal Web Sul 21.
Fiquei espantado, pois não recordava de nenhuma passagem que pudesse provocar tal alvoroço.
Mais preocupado ainda, pelo fato de imaginar aquilo que várias vezes testemunhei na imprensa, um verdadeiro julgamento sem defesa.
Fui ao texto.
Li, pela primeira vez e com a devida cautela. Confesso que achei a matéria muito interessante e fundamentalmente verdadeira.
Apenas em dois tópicos é referida a imprensa desportiva.
No primeiro deles,  declinando uma opinião.
Disse aquilo  que já havia referido até mesmo em palestras nas faculdades de jornalismo. Entendo que, comparativamente aos demais ramos da imprensa, do jornalismo, o desportivo é o mais desqualificado. E expliquei, por entender que é o que menos necessita de conhecimentos complexos.
É uma opinião que se insere no sagrado direito de opinar.
Durante todo o meu Curso de Direito, ouvi dizer que o ramo do Direito de menor complexidade é o Trabalhista.
Posso discordar, mas é direito fundamental das pessoas firmar juízo de valor frente aos demais ramos como o criminal, o cível, o tributário, etc.
Nem assim deixei de militar com exclusividade e por longos anos no Direito do Trabalho.
Fui adiante na matéria do SUL 21 e lá estava a pergunta do repórter: há jornalistas na folha de pagamento dos clubes?
R. Há das mais variadas formas . às vezes comprando livros, às vezes comprando CDs. Tem de tudo.

Repousaria aí o desafio às entidades de classe, impondo o respeitado Nando Gross uma enérgica atuação?
Também acredito que não.
Se há algo que aprendi a respeitar é a inteligência do indigitado.

Há sim, de várias formas jornalistas na folha de pagamento dos clubes!
Quando assumi a vice presidência de Serviços especializados do Inter, abrimos uma significativa aba no mercado de Trabalho. No início constavam da folha de pagamento o Nobrinho e o Claudio Distmann. Hoje temos mais de oito jornalistas trabalhando no Inter (Aleco Mendes, Felipe, Rogério, Natália, Alexandre Correa, Alexandre Lops, etc).
Acredito que nos outros clubes de futebol, especialmente no São Paulo exista número igual ou superior.
Sobre livros e CDS, no contexto futebol como atividade econômica, há um número que impressiona de jornalistas que fazem da atividade clubística matéria para seus livros que vendem e vendem muito.
Lembro de alguns: Osttermann, Paulo Roberto Falcão, Keni Braga, Claudio Distmann, Uda, Veríssimo, etc. Há um verdadeiro mercado de trabalho na literatura voltada ao futebol e a história dos clubes.
Embora em menor escala, mas também com significativa participação, há a edição de DVDs. Somente na época em que respondia pelo setor, vários foram os DVDs editados e comercializados. Todos contaram com a participação de jornalistas.
Quanto a afirmação tem de tudo, refere-se a ampla participação dos jornalistas nas mais diversas atividades que envolvem o futebol.
Os jogadores contam com assessores de imprensa e os treinadores também.
Enfim, o futebol é um grande negócio para todos, inclusive para os jornalistas e para as empresas de comunicação.
Acho que de tudo que foi dito, nem mesmo as mais combativas entidades que representam os jornalistas discordam.
Ah, já ia esquecendo.
Hoje há sites desportivos patrocinados, blogs e twitter com milhares de seguidores.
Pretendo voltar a sintonizar os programas desportivos e, com a mais absoluta certeza poder usufruir do inigualável gosto musical do Nando Gross!

quarta-feira, 18 de maio de 2011

O racismo banalizado


         Um dos aspectos mais repugnantes da humanidade é o racismo. Foi  o responsável pelas mais absurdas passagens da história do homem: escravidão, preconceito nos Estados Unidos e na África do Sul, entre tantos outros episódios nefastos. Milhares de pessoas foram tratadas como sub-humanas em razão da cor da pele. Claro que há outros preconceitos que devem ser combatidos e repudiados, mas esse é o mais abjeto, pois decorre de uma questão genética.
Domingo passado, quando o Internacional pela 40ª vez sagrou-se Campeão Gaúcho, assisti perplexo a uma cena primitiva. Torcedores das cadeiras e sociais do Estádio Olímpico gritavam  "macaco.... macaco...", enquanto o atleta Zé Roberto aquecia para entrar em campo.
Quando o jogador entrou em campo, dando um verdadeiro show de bola, lembrei logo daquele episódio nos Jogos Olímpicos de 1936, quando em plena Alemanha nazista, Hitler desfez do atleta americano negro Jesse Owens. Pois mesmo contra tudo e contra todos, Owens venceu quatro medalhas olímpicas deixando irado o ditador germânico. Naquela época os fundamentos ideológicos repousavam na idéia racial de que havia uma raça ariana superior às demais.
De volta à nossa realidade e ao episódio com Zé Roberto, apenas algumas manifestações de narradores, repórteres e comentaristas noticiaram o fato no Estádio Olímpico. Mas, com todo o respeito a eles, nada além disso.
Da mesma forma, os procuradores do TJD, órgão administrativo da FGF, nada fizeram. Repito: o fato foi público e notório. Parece que a FGF está mais preocupada com palavrões e ilações absurdas para noticiar aos seus procuradores do que com um fato que é criminoso e odioso.
Imediatamente, vendo a reação do nosso jogador, tomei as providências cabíveis para noticiar com provas o ocorrido ao presidente da FGF. Soube hoje que a Segunda Delegacia de Polícia Civil instaurou inquérito para investigação do fato.
Enquanto isso, meu Twitter foi invadido uma vez mais por racistas, neonazistas e jovens arrogantes que se postam como se integrassem uma elite inimputável. Um absurdo.
Amanhã mesmo vou abastecer meu requerimento e a delegada responsável com mais provas, inclusive manifestações da Internet.
Algumas questões, todavia, ficam sem resposta:
Onde estão os movimentos de defesa da igualdade racial?
Onde está o Ministério Público?
O que fará o TJD para punir a agremiação pelo ato de seus sócios?
Por que a imprensa não repudia com veemência o ocorrido?
Por que as empresas de comunicação não lançam campanha contra isso?
Tenho orgulho de ser gaúcho, mas não há dúvidas de que o nosso estado convive com uma banalização do racismo. Já vi manifestações racistas até mesmo nas cadeiras do Beira-Rio. Algo tem que ser feito. Um cidadão que assiste a uma manifestação racista deveria chamar um policial, denunciar e exigir a prisão em flagrante do ofensor.
Peço desculpas ao Zé Roberto por tudo que tem ocorrido com ele nessa cidade e nesse estado. Infelizmente temos uma elite burra e que muitas vezes não tolera ver um negro em evidência. De qualquer maneira, isto tem que mudar um dia. Não podemos tolerar esta banalização do racismo. E que atos como o do último domingo sejam denunciados e combatidos sempre.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Voltaire e o Twitter

Em Cândido ou o Otimismo, Voltaire estabelece uma permanente contradição entre o ingênuo otimismo do jovem Cândido e os ensinamentos de seu mestre Pangloss. Em síntese, como filosofia de vida do mestre, tudo está bem quando está mal, ou, ainda, vivemos o melhor dos mundos e o que vem pela frente é muito pior.


Bem, ontem à noite, após o término do jogo do Internacional, sentei para comer algo antes de dormir e vagarosamente acessei a minha conta no Twitter. Antes de sair do Estádio, constatei algo incomum, todos os comentaristas de futebol elogiavam o que havíamos apresentado em campo. Na costumeira entrevista ao final do jogo, aproveitei para elogiar a todos, demonstrando o ambiente vivido no vestiário.


Comecei elogiando o Marquinhos, nosso preparador de goleiros que tem auxiliado muito, em especial na segurança e coragem que o Lauro tinha demonstrado na partida. Elogiei o Fábio, nosso preparador físico, pela condição dos jogadores, pois quando ganhávamos por três gols de diferença, eles corriam como se estivessem em busca do resultado. Elogiei o Carraveta, os fisioterapeutas e os médicos, pelo fato de vários jogadores estarem recuperados. Sobis e Tinga são exemplo disso.


E, ainda, como não poderia deixar de ser, o Celso Roth, pois o que vi revelou que a sua dedicação e obstinação nos treinamentos estavam dando resultado. Sorondo, Rodrigo, Cavenaghi, Andrezinho, etc. Armou bem o time, demonstrou, na prática aquilo que sempre falamos, necessidade de efetividade no ataque, sendo desnecessário falar no Damião e no Oscar. Tudo me pareceu muito bem! Muito bem encaminhado, pois a equipe revelou, em cinquenta dias, um grande crescimento e potencial ainda maior.
A síntese foi a de que o treinador tinha uma boa dor de cabeça, escalar a equipe com a gama de valores que temos em nosso plantel. Lembrei do Bolívar, do D'Ale, do Índio, do Alecssandro, do Alex, do Nei, do Renan, do Muriel, do Agenor e dos demais. Sem falsa modéstia, também na entrevista, dei uma puxada na brasa para o meu assado, afirmando que as ditas contratações pontuais foram bem feitas. Referência expressa ao incontestável Bolatti, ao habilidoso Zé Roberto e ao capaz e experiente Cavenaghi (em apenas uma jogada, colocou o Sobis na frente do goleiro adversário).


Bem, mas voltando ao Twitter. Quando adotei a ferramenta como forma de interagir com a nossa torcida, fui saudado como revolucionário na postura. Sempre tive consciência do risco que isso representava, à medida que colocava, dentro do possível, em espaço público as minhas idéias. Lá pelos meus distantes quinze anos de idade, com meus arroubos de crença na humanidade e na capacidade de solidariedade das pessoas, ouvia do meu pai: os incendiários de quinze anos se transformarão nos bombeiros dos trinta!


Sempre interpretei aquilo como uma certa arrogância, ou uma forma de minimizar o meu ímpeto transformador. Lidei com isso ao longo da vida, sempre indagando qual o meu papel diante das circunstâncias. A sentença do meu pai caiu com um peso imenso sobre mim no aeroporto de Havana, quando deixava para trás todos os meus sonhos com um nó na garganta. Ontem, li de tudo no Twitter: "não vamos longe..."; "não vamos nos enganar jogando com o Ypiranga..."; "troca o treinador enquanto é tempo..."; "perderemos a Libertadores...".


Confesso que não acreditei. Será que são torcedores de um outro clube infiltrados no meu twitter?
A minha primeira reação, frente ao descompasso entre o que estou testemunhando no vestiário e aquelas manifestações foi de responder, "LARGUEI". Refleti sobre o meu tempo de jovem torcedor, pois quando tinha dez anos, acompanhado pelo meu amigo Ricardo (inseparável parceiro de jogos), achávamos o máximo berrar nas cadeiras do Beira-Rio contra técnicos, jogadores e direção. Queríamos sempre o máximo e algum culpado pelas derrotas.


Presenciei naquela cadeira, durante anos, empates, derrotas e memoráveis vitórias. Não podia ser diferente, pois são os únicos resultados possíveis no futebol. Outra reflexão. Passei a questionar o papel que desempenhei na diretoria do Internacional, pois em várias oportunidades por escrito, nos veículos do Clube, contrapus algum comentário da imprensa esportiva. Desta vez, após um bom jogo, uma vitória de goleada, as críticas partiam de dentro de nossas trincheiras. Dos nossos torcedores.


Conclusão: é ficção a tal imprensa azul! Na realidade, no futebol, o que apreendi na prática, jamais chegaremos a um consenso lógico. Para cada jogada, para cada jogador, para cada esquema tático, milhares de opiniões surgirão. A imprensa apenas repercute a multiplicidade interpretativa dos torcedores. Digamos, é quase como uma religião. Cada um tem a sua e explica o inexplicável pelos dogmas que crê. Acordei, ainda incomodado pela leitura do twitter e, confessadamente viciado na ferramenta, resolvi dar uma olhada. Havia um número expressivo de seguidores sugerindo que eu bloqueasse aqueles que chamavam de corneteiros.


Pensei naquilo como uma alternativa, mas me senti quase que como um censor da época da ditadura. Afinal, temos ou não a liberdade de expressão nas redes sociais? Poucas vezes usei o expediente indicado. Quando lancei mão da alternativa, o fiz diante do uso inadequado de palavrões. Quero dizer que continuo pensando. Penso em aguardar o jogo de domingo em Caxias e o de Cochabamba e talvez retornar. Talvez retornar unilateralmente, dando notícias e em respeito aos milhares de torcedores que têm no Internacional uma paixão. Mas, paixão madura, responsável e que faz crer no futuro.


Mas, independentemente do que penso das críticas daqueles que, como o professor Pangloss de Voltaire, acreditam que o pior é o que está por acontecer, sigo otimista e negando a condição de bombeiro e as surradas posturas. Verifiquei que algumas coisas que pensava como torcedor estavam definitivamente equivocadas. Um vestiário não pode ser controlado apenas na base da pressão. Jogadores não são máquinas, são homens como todos nós, possuem virtudes e defeitos, assim também a comissão técnica. Como então comandar um vestiário?


Aplicando uma receita prosaica: enaltecer as virtudes e tratar os defeitos como passíveis de correção. Há algo que não pode ser mensurado em um grupo de trabalho, há algo que foge ao razoável, ao comum. É o algo a mais. Sim, além dos limites, o comprometimento de todos que trabalham em prol de um objetivo comum. Vejo isso no futebol do Internacional e isso supera as eventuais dificuldades.


Vi isso no pedido dos nossos jogadores em ostentarem uma faixa de apoio ao Renan. Talvez, apenas em razão disso, em respeito ao trabalho que testemunho, tenha ficado tão indignado com as críticas que considero extemporâneas dirigidas ao nosso vestiário. Para que não paire dúvida, falo do chamado fogo amigo.

quarta-feira, 9 de março de 2011

AINDA ACERCA DAS OBRAS NO BEIRA-RIO:

Volto ao assunto, especialmente diante das inúmeras informações distorcidas que andam circulando por aí.
Assumi o compromisso de ter uma postura transparente com o nosso torcedor e, em razão disso, vou tentar esclarecer as dúvidas mais ocorrentes em forma de perguntas e respostas.
Minha preocupação maior é com o futebol, mas como Conselheiro do Clube sei o quanto as obras poderão interferir no futuro da nossa atividade principal.


1. HÁ RACHA NA DIREÇÃO DO INTER?


Não.
Estamos unidos no que se refere as obras e tudo mais.
A divisão existente é exatamente a mesma anterior as eleições. 
De um lado os que perderam a eleição e, do outro, os que venceram.
A atual diretoria entende que o modelo adotado pela gestão anterior fracassou. Aliás, como referido pela FIFA desde julho do ano passado.


2. OS ENGENHEIROS SABEM MAIS DE OBRAS?


Na gestão anterior, as obras eram assunto exclusivo do Vitorio Piffero, do Emídio e do Pedro Affatato, todos engenheiros.
O Emídio tem uma empresa de pavimentação asfáltica, o Affatato uma de sinalização de rodovias e o Vitorio é empresário, sócio de uma construtora.
A discussão atual não diz respeito ao projeto de engenharia, mas a sua viabilização financeira.
O fracasso do projeto é de sustentação financeira e não de engenharia.
Quanto ao estudo financeiro das obras, o Giovanni está muito bem assessorado, inclusive pelo mesmo assessor que alertou o Vitorio dos riscos no semestre passado.


3. DESDE QUANDO A FIFA REJEITOU O PROJETO DE VIABILIDADE FINANCEIRA DAS OBRAS?


Desde julho passado, exigindo do Clube garantias efetivas, pois entendeu que a mera venda de produtos (suítes e cadeiras), com ingresso de receita a longo prazo, não viabilizaria a realização das mesmas, tanto que pediu outras garantias financeiras.


4. POR QUE, APESAR DISSO, AS OBRAS FORAM TOCADAS E O BEIRA-RIO DEMOLIDO EM PARTE?


As obras foram tocadas com maior intensidade no período que antecedeu a eleição.
Por outro lado, o principal argumento do candidato derrotado era a reforma do Beira-Rio.
Salienta-se que naquela oportunidade o projeto de financiamento próprio já estava rejeitado pela FIFA.
Em dezembro passado, deixando de atender pedido da atual direção, houve a demolição de parte das arquibancadas e a assinatura de contrato com empresa para construir o novo padrão das arquibancadas inferiores.


5. HÁ INTERESSE POLÍTICO NO DEBATE SOBRE AS OBRAS?


Entendo que sim, pois se continuarmos com o atual modelo perderemos a Copa (o que já foi alertado pela FIFA), teremos que desembolsar valores para recompor o Beira-Rio com grande ônus para a gestão  do Giovanni.
Ficaria a ideia de que o Affatato queria as obras e fez de tudo para realizá-las e a atual gestão não.
Não podemos esquecer que com a atual situação financeira do INTER, severamente deficitária, não dispomos de um centavo para financiar as obras, eis que a venda de produtos como suítes e cadeiras é insignificante.


6. QUAL O PAPEL DO AOD CUNHA?


O Aod é um técnico, especialista em finanças, é colorado e foi Secretario da Fazenda do Rio Grande do Sul.
Ele foi contratado como forma de profissionalizar a gestão e faz isso muito bem.
Ele apenas analisa e apresenta os números, sem nenhum juízo de valor.


7. QUAL O PAPEL DO CONSELHO DELIBERATIVO?


O Conselho vai decidir, é dele a responsabilidade acerca dos próximos passos.
Ele conhece a situação financeira do Clube (exposição feita pela atual diretoria), bem como os riscos de cada um dos modelos.
No ano passado, a Comissão de Obras do Conselho alertou sobre a fragilidade do modelo (ausência de estudos mercadológicos), o que não foi revelado aos Conselheiros por decisão exclusiva do presidente do Conselho.
O presidente do Clube não poderia ficar silente diante de riscos que podem comprometer o futuro do Clube por gerações.
Ao contrário daqueles que comandavam as obras na gestão anterior, levou o assunto ao Conselho Deliberativo.


8. PODEMOS DESCARTAR A COPA E A FIFA?


Podemos e tenho escutado algumas manifestações nesse sentido.
O prejuízo seria a perda de uma oportunidade para a reforma do estádio e que é necessária.
O modelo financeiro é que não pode comprometer o presente nem o futuro do nosso Internacional.
Caso venhamos a perder a Copa, há o risco de ser credenciado outro estádio de Porto Alegre.
Quem lutou pela Copa no Beira-Rio foram os gestores anteriores.
Não podemos esquecer que ela foi festejada com manifestações públicas, como a realizada no parque da Redenção.
Outros clubes aproveitarão a oportunidade para reforma de seus estádios.


9. QUAL A VANTAGEM DE REFORMAR O BEIRA-RIO?


Mais conforto para os sócios e torcedores, aumento de sua capacidade, modernização de suas instalações inclusive para o futebol.
Um estádio moderno, construído até a Copa, permitirá maiores receitas com ações de marketing.


10. QUAL O MODELO ADOTADO PELA GESTÃO VITORIO PARA AS OBRAS?


Com recursos próprios (recursos vindos da venda do estádio dos Eucaliptos e antecipações de receitas pela venda de suítes e cadeiras).
O Conselho Deliberativo aprovou, tão somente, a antecipação de receitas com a venda de suítes e cadeiras e a venda dos Eucaliptos.
Como só vendemos 26 suítes (sendo onze pela transferência de negócios antes existentes), temos a seguinte equação: aproximadamente 28 milhões de reais (dos quais restam treze), pelo resultado da venda dos Eucaliptos e o ingresso em prazo longo da venda das 26 suítes para fazer frente a uma obra de mais de 200 milhões de reais.


11. HÁ COMO O CLUBE FINANCIAR AS OBRAS?


Não.
Uma das causas de não obtermos garantias bancárias é a situação financeira do Clube.
Não há como enfrentar as despesas mensais ordinárias e retirar dinheiro que não temos no caixa para pagar as obras da reforma do Beira-Rio.


12. POR QUE O INTER VENDE JOGADORES?


Para que ingresse dinheiro em seu caixa e com isso equilibrar as suas contas.
A necessidade de ingresso de valores é em razão do défícit (diferença entre gastos e valores recebidos).
São pagas despesas de pessoal, manutenção predial, juros bancários de empréstimos (só no último semestre da gestão anterior R$18.000.000,00), viagens da equipe, etc.
A mensalidade dos sócios representa aproximadamente 30% da receita.
Ela é muito importante, mas está longe de garantir a totalidade das despesas mensais.


13. QUAIS AS OUTRAS RECEITAS IMPORTANTES?


Televisionamento de jogos e patrocínios.


14. O QUE FOI DITO PELA FIFA AO INTER?

Que diante da fragilidade do modelo financeiro das obras, entendendo que havia risco de não serem levadas até o final em tempo hábil, pediu garantias bancárias ou parceria com empresa construtora.


15. O INTER BUSCOU AS GARANTIAS BANCÁRIAS?


Sim.
O Vitorio solicitou garantia para vários bancos e nenhum concedeu.
Inclua-se aí Banrisul e BNDES.


16. POR QUE OS BANCOS NÃO DERAM AS GARANTIAS AO INTER?


Pelo risco do negócio.
Bancos sempre avaliam o risco de um negócio e a capacidade financeira de quem pede empréstimo ou garantia.


17. COMO SURGIU A ANDRADE GUTIERREZ?


A empresa procurou o Vitorio para oferecer um modelo de parceria para as obras de reforma do Beira-Rio.
Na época, tendo optado pelo modelo de realizá-las com recursos próprios, não foram esgotadas as negociações.


18. QUAL A PROPOSTA DA ANDRADE GUTIERREZ?


Arcar com todas as despesas do projeto, inclusive as futuras exigências da FIFA, a preço fechado.
O que ultrapassar o orçamento apresentado não será da responsabilidade do Inter - modalidade preço fechado.
Somente na semana passada a FIFA apresentou novas exigências que não são desnecessárias (sala de imprensa, rede de informática, etc) e que não estavam previstas em nenhum dos orçamentos.


19. QUAL O GANHO DA ANDRADE GUTIERREZ?


Fica com o resultado das receitas novas (áreas criadas com a reforma), por 20 anos, devolvendo depois ao Inter.


20. HÁ ÁREAS COMERCIAIS?


Sim, está previsto um shopping de médio porte, abrigando lojas.
Ela se encarrega de procurar locadores, assumindo o risco do negócio.
Nenhum negócio desse tipo rende 100% a partir da sua inauguração. É preciso um tempo de maturação. Vejamos os exemplos dos shoppings de Porto Alegre. A maioria ainda está buscando resultados satisfatórios, o que demanda um certo período de tempo.


21. QUAL A EXPERIÊNCIA DO INTER NA GESTÃO DE LOCAIS COMERCIAIS?


Péssima - Saci, Barril, Gato do Alemão, etc.
Até mesmo o Centro de Eventos não dá os resultados prometidos na época de sua inauguração.
Em boa parcela o Inter se viu envolvido em ações de despejo e teve prejuízos.


22. TEMOS CAPACIDADE PARA GERIR NEGÓCIOS?


Não.
Nossa atividade como Clube é o futebol e devemos concentrar as nossas energias nele.
Além dele, o marketing (patrocínios) e a relação com os sócios.


23. HÁ ALGO A MAIS NAS OBRAS DA ANDRADE GUTIERREZ?


Embora o modelo de arcar com o custo vendendo suítes e cadeiras, deveria envolver um estacionamento (área crítica no Beira-Rio), no projeto inicial não estava previsto. No projeto da Andrade Gutierrez está previsto um edifício garagem.
Há, ainda, um centro de treinamento - CT - moderno e necessário paa o desenvolvimento do futebol.
Hoje temos carência de aproximadamente nove campos de futebol para todas as categorias (base e profissional). Há carência de alojamento, sala de musculação, etc.


24. O INTERNACIONAL PERDERÁ O SEU ESTÁDIO?


Claro que não.
Há várias manipulações políticas explorando o tema.
Seja o nome, seja o tempo de disponibilidade do estádio, tudo continuará sendo nosso.
Uma das especulações, diz com a possibilidade da troca de nome.
Como em qualquer local destinado ao uso público e relacionado com esporte, é possível dar nome de empresas a determinadas áreas, sempre com direito de veto pelo Inter.
Exemplo: Área VIP Banrisul... Tim... Reebok...


25. HÁ O RISCO DE EMPRESÁRIOS TORCEDORES DE OUTROS CLUBES DETERMINAREM NOME PARA AS ÁREAS DO BEIRA-RIO?


Escutei em uma entrevista que seria possível o Sr. Gerdau, Grendene e Vontobel darem a uma determinada área do Beira-Rio a designação de Eurico Lara!
Primeiro a seriedade desses empresários jamais permitiria ação de tal natureza.
Segundo, o Internacional teria direito de veto e não permitiria.


26. POR QUE O INTER NÃO  FAZ AS OBRAS LENTAMENTE, COM SEUS PRÓPRIOS RECURSOS?


Os tempos são outros, bem diferentes da época da heróica construção do Beira-Rio.
Seria como construir uma catedral e levaria, com certeza, muitos anos.
Logo, não há diferença entre construir agora e receber todas as áreas em plena atividade comercial em 20 anos e deixar o Estádio parcialmente reformado ao longo de vários anos.
A diferença é que não teríamos as vantagens de um estádio moderno logo.


27. A TORCIDA E OS POLÍTICOS PODERIAM AUXILIAR DE ALGUMA FORMA?


Não há dúvidas de que a torcida colorada é a maior e melhor.
Mas, imaginar que algo em torno de mais de 200 milhões possa ser feito com doações e até 2014 é desconhecer a realidade.
Alguns exemplos, como contratação de jogadores com campanhas perante os sócios, não deram certo em nenhum clube.
Atualmente, em todo o mundo, as grandes obras são feitas com parcerias entre empresas que exploram atividades econômicas diferentes.


28. O BEIRA-RIO SERÁ PRIVATIZADO?


O Inter e o Beira-Rio já são privados.
Privatizar é ceder algo que é público para empresas privadas (pedágio, energia elétrica, telefonia, etc).
Na realidade se trata de um acordo comercial entre pessoas jurídicas.


29. POR QEÊ A DIFERENÇA DE ORÇAMENTOS?


Porque o primeiro orçamento de 150 milhões não é real.
Ele não contempla a parte elétrica, móveis para as suítes e vários outros itens.
Apenas em uma adequação, o orçamento de 150 milhões pulou para 200.
Não podemos esquecer que o item segurança da obra que contempla uma cobertura é fundamental.


30. OUTRA EMPRESA FEZ PROPOSTA?


Quando o projeto de sustentação financeira ruiu e logo após a troca de comando no Clube. O presidente Giovanni corajosamente resolveu tratar a questão das obras com absoluta transparência.
Foi apenas nessa oportunidade que o Vitorio apresentou ao Inter a empresa Engevix. Já havia transcorrido mais de seis meses da negativa da FIFA em qualificar positivamente o projeto do Inter.


31. A ENGEVIX APRESENTOU ALGUMA PROPOSTA?


Não.
Apresentou uma ideia de negócio, nos seguintes termos: reforma do estádio; destinação para ela por prazo determinado, como na outra proposta da Andrade Gutierrez, de 15% das receitas novas; preferência nos negócios que envolvem o entorno do Beira-Rio e garantias pelo Inter ( direitos sobre jogadores, sobre os recebíveis de televisionamento - Clube dos 13).


32. QUAL A RESPOSTA DA DIREÇÃO DO INTER?


Que não tinha interesse em dar em garantia as receitas necessárias para o sustento do Clube.
Que entendia que a área do entorno será mais valorizada que a do Estádio.


33. O QUE É A CHAMADA ÁREA DO ENTORNO  DO BEIRA-RIO?


São as áreas previstas no projeto Gigante Para Sempre e aprovadas pelo município, como hotéis (duas torres), Gigantinho, marina, etc.
Segundo a atual diretoria, após a reforma do Estádio essas áreas terão incontável valorização e seria uma temeridade dar preferência sobre elas para alguém atualmente (antes de concluída a reforma do Estádio).


34. O QUE DISSE A ENGEVIX?


Que na realidade o maior interesse repousa na área do entorno e não na reforma do Estádio.


35. QUAL A RELAÇÃO DA ATUAL DIREÇÃO DO INTER COM AS CONSTRUTORAS?


Nenhuma.
Nem passada, nem presente e nem futura.
Não há relacionamento com a Andrade Gutierrez, nem com a Construtora Tedesco e nem com a Engevix.
Nenhum diretor do Inter mantém ou manteve qualquer negócio com essas empresas.


36. QUANDO O AOD CUNHA FOI SECRETÁRIO DA FAZENDA HOUVE ALGUMA ISENÇÃO À ANDRADE GUTIERREZ?


Nenhuma, o que pode ser comprovado.
As insinuações irresponsáveis devem ser debitadas aos interesses políticos, sejam internos (Internacional), seja partidário.
Repito: o Aod Cunha é um técnico e homem de reputação inatacável.

terça-feira, 1 de março de 2011

O Beira-Rio e a Copa do Mundo

Com certeza alguns dirão que eu deveria estar me dedicando somente com o futebol e não com questões relacionadas com obras do Beira-Rio. É verdade, sou o primeiro a reconhecer que a minha energia deve estar canalizada unicamente para o futebol. Mas não está e por razões óbvias, pois na minha função devo defender o futebol como atividade preponderante do nosso Clube.

Tenho um compromisso que assumi ao decidir discutir, dentro do possível e no espaço público, as questões relacionadas com a direção de futebol do Clube. Por que faço isso?
Por dois motivos, dos quais não abro mão. O primeiro diz respeito à repercussão do futebol. Imagino que, sendo o mais transparente possível, evito uma série de coisas que, via de regra, recaem sobre aqueles que assumem posições de interesse público. Sei muito bem como é isso, pois na minha atividade profissional, que é pública, já estou acostumado com o controle social. Ele é fundamental e deveria estar presente em nosso país há muito mais tempo e de forma mais difusa.O segundo, em específico, é com relação à magnitude do momento: com a história. Sim, com a história do nosso centenário INTERNACIONAL.

Passemos aos fatos:

A escolha do Beira-Rio para ser uma das sedes do mundial de 2014, foi festejada por todos nós, com a divulgação do slogan “A Copa é Nossa”.A partir de então, começaram uma série de investidas para que em Porto Alegre o outro estádio, que está em construção nas cercanias do aeroporto, também fosse contemplado com a Copa.

Algumas fragilidades do nosso modelo inicial, especialmente do suporte financeiro, estruturado na venda de suítes para enfrentar os custos da construção, foram, desde o primeiro momento, rechaçados pela FIFA. A FIFA passou a exigir do INTER garantias bancárias para a construção.  Elas não foram obtidas.Tínhamos, como sustentação do modelo, arcando diretamente com as despesas das obras, o resultado da venda dos Eucaliptos e a projetada e imaginária arrecadação com a venda de suítes, camarotes e cadeiras.

Objetivamente, embora já iniciadas as obras, vendemos em torno de vinte e seis suítes, sendo que destas, dezesseis migraram das já existentes, anteriormente comercializadas.
Diante disso, inclusive das variações do orçamento inicialmente apresentado, de cento e cinqüenta milhões, o presidente Giovanni Luigi, de forma responsável e atenta, retomou a discussão acerca do modelo adotado e os seus riscos. Não poderia ele arcar com a indelével e histórica responsabilização pela perda da Copa ou pelo colapso do modelo de realização das obras.

Em síntese, só há duas hipóteses: ou arcamos com o custo total da obra e, para manter a Copa no Beira-Rio, realizamos um empréstimo bancário de aproximadamente cem milhões de reais ou estabelecemos uma parceria com uma construtora que, sozinha, em troca da exploração das receitas advindas e por determinado tempo, arca com a totalidade do custo, no modelo PREÇO FECHADO.

Pois bem, quando se intensifica o debate, alcançado ele a mídia, verifico, com todo o respeito às demais opiniões que, em boa parcela, ele remete a dogmas.

Quando conheci o Beira-rio, lá pelos meus dez anos de idade, fiquei espantado com a obra. Ganhamos espaço onde antes havia água, erguemos um dos maiores e mais modernos estádios do mundo e tudo com as nossas próprias forças e recursos, especial e meritoriamente dos torcedores. Contextualizando, o mundo era de um jeito e a economia também. Andava-se de bonde em Porto Alegre, à época conhecíamos todos os grandes empreendedores locais, o mundo ainda não havia sofrido os efeitos da chamada globalização.

Hoje, tudo está diferente. O mundo mudou. Os grandes negócios são reservados às grandes empresas multinacionais, os preços são internacionalmente estabelecidos e o futebol deixou de lado o romantismo para assumir o viés do realismo financeiro.

Em nenhum lugar do mundo estádios são construídos com os esforços de antes. Há, também, questões mercadológicas, pois os investimentos na compra de suítes, camarotes e cadeiras, estão mais restritos. As empresas sofrem rigorosos controles de gastos, os investimentos são restritos e as pessoas se deparam com enormes dificuldades para a subsistência pessoal e familiar.

Concretamente, quais os riscos que temos pela frente? O primeiro é o de, ao insistir no modelo atual de obras com recursos próprios, perder o Beira-Rio como sede da Copa. Risco que está afastado com a parceria de uma grande construtora. Este risco é quase que imediato. O segundo é o de contrairmos um empréstimo vultuoso, contando com receitas incertas, eis que assumiríamos direta e totalmente o risco integral do negócio. Um empréstimo na proporção do que é acenado significaria um desencaixe mensal de mais de um milhão de reais. O terceiro, para mim o mais significativo, é o da pulverização de nossas energias. A meu modesto juízo, a exemplo do que ocorre nos demais grandes clubes no mundo todo, o Internacional deve concentrar toda a sua força gerencial no futebol, atividade fim, no marketing, atividade resultante e no relacionamento com o quadro social.

A lógica da manutenção do atual modelo de obras, segundo os seus defensores, encontraria justificativa em apenas um aspecto – estaríamos abrindo mão de receitas futuras. Esclareça-se receitas que não temos, inexistentes. Receitas que retornarão ao Clube, integralmente, após algum tempo.

Seria como, se ao fazer um negócio com alguém, estivéssemos mais focados nos resultados a ser obtidos pelo parceiro do que nas facilidades e resultados a nós destinados. Alguém tem dúvida de que para incrementar um negócio na sua integralidade é necessário tempo, experiência, investimentos publicitários etc?

Vejamos, por exemplo, a realidade da maioria dos shoppings de Porto Alegre, e o tempo necessário para que se firmem como bons negócios. No caso estamos falando de empreendimentos que contemplam especialistas no setor.Quais foram as atividades secundárias, como lojas, que deram resultados satisfatórios ao Clube?

Pelo que lembro, tivemos a Churrascaria Saci, o Barril, o Gato do Alemão, enfim, locações diretas e que criaram mais problemas do que soluções financeiras.

O que dizer, ainda, do largo tempo que resultou da inércia quanto a uma destinação ao Estádio dos Eucaliptos? Inúmeras ocupações irregulares, invasões, deterioração e locatários inadimplentes.Administrar o que não conhecemos é sempre problemático, desvia o nosso foco e compromete o nosso futuro.

Em síntese, abro o meu voto!

Sou, diante das circunstâncias que não permitem mais dispêndio de tempo, a favor da parceria com uma grande construtora.

Na proposta da construtora a ser apreciada pelo Conselho Deliberativo, há a inclusão de um Centro de Treinamentos para o futebol, exigência da modernidade e necessidade para aprimorar nossa principal atividade. Deixemos bares, lojas, restaurantes, estacionamentos, hotéis, etc., para quem entende do ramo. O que queremos é um futebol competitivo, ganhador de títulos e cada vez mais conforto para os nossos torcedores.

Não desejo perder a Copa para o nosso adversário, depois de festejada a conquista e nem comprometer o nosso futuro no futebol, razão maior de toda a nossa existência!

Inspirado em Hammlet: endividar ou não, eis a questão!

Roberto Siegmann, Conselheiro do Sport Club Internacional há 24 anos, e atual Vice-Presidente de Futebol.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

GURI DE GARAGEM

Certa feita ouvi de um amigo que me conheceu já adulto, o seguinte: cara tu tem todo o jeito de ter sido guri de garagem! Diante da dúvida do significado, me respondeu que guri de garagem era aquele que preferia ficar na garagem de casa em troca da rua. Fiz uma rápida reflexão e voltei à minha infância.Ele tinha razão. Sempre preferi o autorama, os difíceis jogos de montar, do tipo mecbras, engenheiro eletrônico e, ainda, um outro que servia para montar complexas lunetas e microscópios. Eu montava galenas (rádios receptores rudimentares), brincava madrugada a dentro de sintonizar em ondas curtas emissoras de outros países em um grande receptor valvulado.Enfim, era mesmo um guri de garagem. 

Minha passagem pelo futebol não foi das melhores. Foi um medíocre goleiro, aliás posição que era reservada aos menos habilitados aos dribles e movimentações certeiras. Bem, mas o que isso tem a ver com o INTER? O meu passatempo é andar de moto. Cruzei a Patagônia e a Terra do Fogo até USHUAIA, a cidade do "fim do mundo". Poderia dizer que agora sou um cinquentão de garagem.
Apesar da qualificação - Guri de Garagem - lembro que quando passei a frequentar estádios (primeiro os Eucaliptos e depois o Beira-Rio), sempre me chamou muito a atenção a figura do dirigente. Pensava no quanto eram importantes, na medida em que eram eles quem de fato determinavam o futuro do Clube e os caminhos do time para o qual sempre torci. Digo isso para estabelecer que para ser dirigente de futebol não é necessário praticar o futebol.
A conclusão é óbvia, pois se praticasse bem o futebol teria sido atleta e sempre estive muito longe disso.
Dirigir um vestiário tem aspectos inusitados que desafiam qualquer um. Todo o dia temos, no mínimo, um novo problema e a necessidade de buscar uma solução. É necessário ser impetuoso mas medindo o ímpeto, ser determinado e ao mesmo tempo flexível, ser cobrador  e ao mesmo tempo generoso. Mas, antes de tudo, ser atento. Muito atento! É necessário perceber as coisas antes que elas aconteçam e, mesmo que aconteçam, refletir sobre qual é o melhor caminho a seguir. O mais desafiador é que o vestiário é repleto de gente, de pessoas. É isso que faz toda a diferença. Em síntese, ser cauteloso sem ser covarde e ser arrojado sem ser irresponsável.

Talvez comandar seja mais adequado às montagens complicadas dos jogos eletrônicos e à sintônia fina das galenas do que a prática amadora do futebol.
Aprendi muito ao longo da vida, em especial no INTERNACIONAL.
Tenho convicção que a virtude de dirigir um vestiário está no ajuste equilibrado e certeiro.