quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

GURI DE GARAGEM

Certa feita ouvi de um amigo que me conheceu já adulto, o seguinte: cara tu tem todo o jeito de ter sido guri de garagem! Diante da dúvida do significado, me respondeu que guri de garagem era aquele que preferia ficar na garagem de casa em troca da rua. Fiz uma rápida reflexão e voltei à minha infância.Ele tinha razão. Sempre preferi o autorama, os difíceis jogos de montar, do tipo mecbras, engenheiro eletrônico e, ainda, um outro que servia para montar complexas lunetas e microscópios. Eu montava galenas (rádios receptores rudimentares), brincava madrugada a dentro de sintonizar em ondas curtas emissoras de outros países em um grande receptor valvulado.Enfim, era mesmo um guri de garagem. 

Minha passagem pelo futebol não foi das melhores. Foi um medíocre goleiro, aliás posição que era reservada aos menos habilitados aos dribles e movimentações certeiras. Bem, mas o que isso tem a ver com o INTER? O meu passatempo é andar de moto. Cruzei a Patagônia e a Terra do Fogo até USHUAIA, a cidade do "fim do mundo". Poderia dizer que agora sou um cinquentão de garagem.
Apesar da qualificação - Guri de Garagem - lembro que quando passei a frequentar estádios (primeiro os Eucaliptos e depois o Beira-Rio), sempre me chamou muito a atenção a figura do dirigente. Pensava no quanto eram importantes, na medida em que eram eles quem de fato determinavam o futuro do Clube e os caminhos do time para o qual sempre torci. Digo isso para estabelecer que para ser dirigente de futebol não é necessário praticar o futebol.
A conclusão é óbvia, pois se praticasse bem o futebol teria sido atleta e sempre estive muito longe disso.
Dirigir um vestiário tem aspectos inusitados que desafiam qualquer um. Todo o dia temos, no mínimo, um novo problema e a necessidade de buscar uma solução. É necessário ser impetuoso mas medindo o ímpeto, ser determinado e ao mesmo tempo flexível, ser cobrador  e ao mesmo tempo generoso. Mas, antes de tudo, ser atento. Muito atento! É necessário perceber as coisas antes que elas aconteçam e, mesmo que aconteçam, refletir sobre qual é o melhor caminho a seguir. O mais desafiador é que o vestiário é repleto de gente, de pessoas. É isso que faz toda a diferença. Em síntese, ser cauteloso sem ser covarde e ser arrojado sem ser irresponsável.

Talvez comandar seja mais adequado às montagens complicadas dos jogos eletrônicos e à sintônia fina das galenas do que a prática amadora do futebol.
Aprendi muito ao longo da vida, em especial no INTERNACIONAL.
Tenho convicção que a virtude de dirigir um vestiário está no ajuste equilibrado e certeiro.